RECOMENDAÇÃO DE ADUBAÇÃO E CALAGEM PARA O ESTADO DE SÃO PAULO (1)
Bernardo van Raij, Heitor Cantarella, José Antonio Quaggio e Angela Maria Cangiani Furlani (2)
2. AMOSTRAGEM DE SOLO
A amostragem de solo é a primeira etapa em um bom programa de adubação e calagem. Nunca é demais lembrar que, por melhor que seja a análise química, ela não pode corrigir falhas na retirada da amostra ou na sua representatividade.
Detalhes sobre amostragem de solo, tais como definição de glebas, retirada de amostras compostas, ferramentas utilizadas, local e profundidade de amostragem e outros, são apresentados em impressos distribuídos pelos laboratórios. Contudo, alguns aspectos específicos são lembrados aqui, visando a maior uniformidade no procedimento.
2.1. Escolha das glebas para amostragem
Dividir a propriedade em glebas homogêneas, nunca superiores a 20 hectares, amostrando cada área isoladamente. Separar as glebas com a mesma posição topográfica (solos de morro, meia encosta, baixada, etc.), cor do solo, textura (argilosos, arenosos), cultura ou vegetação anterior (pastagem, café, milho, etc.) e adubação e calagem anteriores. Em culturas perenes, levar em conta, também, a variedade e a idade das plantas. Áreas com uma mesma cultura, mas com produtividade diferente, devem ser amostradas separadamente. Identificar essas glebas de maneira definitiva, fazendo um mapa para o acompanhamento da fertilidade do solo com o passar dos anos.
Se a propriedade for muito grande, não sendo possível amostrá-la completamente, é preferível amostrar apenas algumas glebas, não muito extensas, representando situações diferentes.
2.2. Ferramentas e coleta de amostras
A coleta de amostras pode ser feita com enxadão, pá reta ou, preferivelmente, com trado. O trado - tipo holandês, tubo ou de caneco - torna a operação mais fácil e rápida. Além disso, permite a retirada das amostras na profundidade correta e das mesmas quantidades de terra de todos os pontos amostrados.
Todas as ferramentas, bem como recipientes, utilizados na amostragem e embalagem da terra, devem estar limpos e, principalmente, não conter resíduos de calcário ou fertilizantes. Para amostras nas quais se pretende analisar micronutrientes, usar trado de aço e evitar baldes de metal galvanizado.
De cada gleba devem ser retiradas diversas subamostras para se obter uma média da área amostrada. Para isso, percorrer a área escolhida em ziguezague e coletar 20 subamostras por gleba homogênea. Em culturas perenes, tais como café, citros, seringueira etc., a amostragem deve ser feita em toda a faixa de solo adubada, que reflete melhor os tratamentos aplicados nos anos anteriores.
Em cada ponto afastar, com o pé, detritos e restos de culturas. Evitar pontos próximos a cupinzeiros, formigueiros, casas, estradas, currais, estrume de animais, depósitos de adubo ou calcário ou manchas no solo. Introduzir o trado no solo até a profundidade de 20 cm. A terra coletada representa uma porção de solo na profundidade de 0-20 cm. Raspar a terra lateral do trado, no caso de trado tipo holandês, aproveitando apenas a porção central.
É possível, também, amostrar adequadamente o solo com um enxadão ou pá reta. Os cuidados e números de subamostras são os mesmos descritos para o trado. Após a limpeza superficial do terreno, fazer um buraco em forma de cunha, na profundidade de 0-20 cm, deixando uma das paredes o mais reta possível. Cortar, com o enxadão, uma fatia de cima até embaixo e transferir para o balde. Para evitar encher demasiadamente o balde, dificultando a mistura das amostras, cada fatia coletada pode ser destorroada dentro do próprio buraco, retirando-se uma porção dessa terra para o balde. É importante coletar uma mesma porção de terra em cada um dos pontos amostrados.
Transferir a terra de cada subamostra para um balde ou outro recipiente limpo. Repetir a amostragem do mesmo modo em cada um dos 20 pontos. Quebrar os torrões de terra dentro do balde, retirar pedras, gravetos ou outros resíduos, e misturar muito bem. Se a amostra estiver muito úmida, deixar a amostra secar ao ar.
Retirar cerca de 300 g de terra do balde e transferir para uma caixinha de papelão apropriada para análise de solo ou saco plástico limpo. Essa porção de terra será enviada ao laboratório. Jogar fora o resto da terra do balde e recomeçar a amostragem em outra área.
Identificar a amostra de solo com o nome do proprietário, propriedade, identificação da gleba amostrada e data. Anotar em um caderno, juntamente com o mapa da propriedade, o número de cada amostra e o local de onde foi retirada. Essas anotações são importantes para identificar o local para posterior aplicação de calcário e fertilizantes. Além disso, facilitam o acompanhamento da evolução da fertilidade do solo de um ano para outro.
2.3. Freqüência e época de amostragem
A análise de solo deve ser repetida em intervalos que podem variar de um a vários anos, dependendo da intensidade da adubação, do número de culturas de ciclo curto consecutivas ou do estágio de desenvolvimento de culturas perenes. De forma geral, convém amostrar com maior freqüência culturas que recebem maiores aplicações de adubos.
As amostras devem ser retiradas vários meses antes do plantio, no caso de culturas temporárias, já que diversas providências dependem do resultado da análise de solo. Também é conveniente retirar amostras antes da aração para permitir a aplicação de calcário antes dessa operação. No caso de culturas perenes, a amostragem deve ser feita, de preferência, no final da estação chuvosa.
2.4. Local e profundidade de amostragem
Nos casos de culturas anuais e de culturas perenes a serem instaladas, retirar as amostras simples que formarão a amostra composta em todo o terreno e na profundidade de 20 cm, a chamada camada arável. Para fins de cálculos em fertilidade do solo, essa camada tem um volume de 2.000.000 dm3 de terra, para uma área de um hectare.
Para culturas perenes, que recebem aplicações localizadas de adubo, como café e frutíferas, retirar as amostras dos locais onde o adubo é aplicado. Embora nesses casos os adubos não sejam incorporados ao solo, a amostragem é igualmente feita na profundidade de 20 cm, para manter a coerência da interpretação de resultados. A mesma observação vale para cultivo sob plantio direto, recomendando-se, também, a amostragem na profundidade de 0 a 20 cm, até que, eventualmente, a pesquisa indique alternativa melhor.
Amostras compostas podem, também, ser retiradas na profundidade de 20 a 40 cm, principalmente para avaliar a acidez do subsolo, bem como os conteúdos de cálcio, enxofre e potássio. A coleta deve ser feita, de preferência, com trado. Primeiro coletar a amostra de 0-20 cm e em seguida retirar a terra da superfície que caiu dentro do buraco, para depois aprofundar o trado até 40 cm. Antes de tranferir a terra para o balde, raspar a terra lateral do trado e retirar também 2 a 3 cm da parte superior. Isso tudo é importante para evitar a contaminação com terra da superfície. Os trados tipo tubo são convenientes para a amostragem profunda, podendo-se utilizar um tubo de menor diâmetro para a de 20-40 cm.
2.5. Envio da amostra de solo ao laboratório
A amostra de solo deve ser acompanhada da Folha de Informações, preenchida com dados referentes a cada uma das glebas amostradas. Cada amostra deve ser identificada, da mesma maneira, na caixinha ou em outra embalagem que a contiver, na Folha de Informações e no mapa da propriedade.
As amostras podem ser enviadas pelo correio ou entregues a qualquer um dos laboratórios que utilizam os métodos de análise de solo desenvolvidos no IAC. Esses laboratórios têm seus resultados identificados por uma etiqueta do ano do programa de controle de qualidade do sistema IAC de análise de solo.
Caso haja interesse em recomendação de calagem e adubação, o usuário deve especificar a cultura e o código correspondente, completando, além disso, o solicitado na Folha de Informações para Análise de Solo.
3. REPRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DE ANÁLISES DE SOLOS, FOLHAS, FERTILIZANTES E CORRETIVOS
A adoção do Sistema Internacional de Unidades (SI), nesta edição, implica em alteração nas representações e nos valores de parte dos resultados.
3.1. Unidades de representação de resultados
As bases de representação serão o quilograma (kg) ou o decímetro cúbico (dm3) para sólidos e o litro (L) para líquidos.
Os conteúdos serão expressos em quantidade de matéria, podendo ser usados moi de carga (molc) ou milimol de carga (mmolc), ou em massa, com as alternativas de grama (g) ou miligrama (mg). O milimol de carga corresponde ao milieqüivalente, que não será mais empregado.
A porcentagem (%) não deverá mais ser utilizada para representar teor ou concentração e, assim, dará lugar a uma representação combinando as unidades acima.
3.2. Solos
Os resultados de cátions trocáveis, cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+), potássio (K+), alumínio (A13+), de acidez total a pH 7 (H+ + A13+), de soma de bases (SB) e de capacidade de troca de cátions (CTC) serão apresentados em mmolc/dm3. Os valores são 10 vezes maiores do que a representação anterior, em meq/100 cm3.
Os resultados de fósforo (P), de enxofre (S-SO42-) e dos micronutrientes boro (B), cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn) e zinco (Zn), serão apresentados em mg/dm3. Na prática, os resultados têm sido apresentados, por muitos laboratórios, em partes por milhão (ppm), mesmo para o caso de medidas volumétricas de solo, o que costuma ser o caso da análise de solo para fins de fertilidade. Assim sendo, essa representação, em ppm, tem sido usada de forma ambígua e, por isso, o seu uso deve ser descontinuado. De qualquer forma os números não mudarão.
Os resultados de matéria orgânica (MO) serão apresentados em g/dm3, sendo os valores 10 vezes maiores que a representação anterior, em porcentagem (%), que corresponde a g /l00 cm3, já que a medida de solo no laboratório é volumétrica.
A saturação por bases (V) e a saturação por alumínio (m), serão expressos em porcentagem (%). Note-se que estes são índices calculados e não representações de concentrações ou teores. Nesses casos, é admitido o uso da porcentagem.
3.3. Folhas
A porcentagem (%) deixa de ser usada para macronutrientes e substituída por g/kg com números 10 vezes maiores.
Também a representação em partes por milhão (ppm) não mais será usada, dando lugar a mg/kg. Neste caso, os números não mudarão.
3.4. Corretivos da acidez
Os teores, tanto das frações granulométricas, como de cálcio e de magnésio, serão apresentados em g/kg. O poder de neutralização será dado em molc /kg.
Para os corretivos será impossível adotar imediatamente o SI, já que o comércio desses produtos não é feito usando essa representação. No capítulo de corretivos e fertilizantes, serão apresentadas as duas alternativas e feitas comparações.
3.5. Fertilizantes
No caso dos macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg, S) os resultados serão apresentados em g/kg, em substituição à porcentagem. Os resultados serão 10 vezes maiores, em se tratando dos elementos.
Para fósforo e potássio há, ainda, o problema das representações em P2O5 e em K2O, que também não poderão ser abandonadas. Para fertilizantes, será preciso usar a representação do SI juntamente com a indicação tradicional. Os micronutrientes serão representados em mg/kg, ao invés de ppm. Os números não mudarão. No caso de adubos fluidos, as representações dos teores de macro e micronutrientes serão feitas, respectivamente, em g/L e em mg/L.
3.6. Conversão de unidades
As representações antigas podem ser convertidas nas novas, considerando as relações indicadas no quadro 3.1.
Nos casos da porcentagem (%) e de partes por milhão (ppm), percebe-se como essas representações não têm significado preciso, podendo ser diferentes, conforme a base de representação. Já no sistema novo, a representação é explícita e não deixa margem a dúvidas. Também fica claro que o milieqüivalente (meq) só mudou de nome, passando a ser conhecido como milimol de carga (mmolc). O fator de conversão l0, mostrado no quadro 3.1, deve-se à mudança da base de representação, de 100 para 1.000, da mesma maneira como foi feito para a porcentagem.
A unidade de condutividade elétrica é o deci-siemen por metro (dS/m), que passa a substituir o milimho/cm. Neste caso os valores numéricos permanecem os mesmos.
Quadro 3.1. Fatores para conversão de unidades Sistema Internacional de Unidades antigas em unidades do Sistema Internacional de Medidas.
Unidade antiga (A) |
Unidade nova (N) (N = A x F) |
Fator de conversão (F) |
% |
g/kg, g/dm3, g/L |
10 |
ppm |
mg/kg, mg/dm3, mg/L |
1 |
meq/100 cm3 |
mmolc/dm3 |
10 |
meq/l00g |
mmolc/kg |
10 |
meq/L |
mmolc/L |
1 |
P2O5 |
P |
0,437 |
K2O |
K |
0,830 |
CaO |
Ca |
0,715 |
MgO |
Mg |
0,602 |
mmho/cm |
dS/m |
1 |
(1) material publicado originalmente na Boletim Técnico 100 ( Recomendações de Adubação e Calagem para o Estado de São Paulo - Instituto Agronômico de Campinas / FUNDAG - Campinas /SP - 1997)
(2) Seção de Fertilidade de Solo e Nutrição de Plantas, Instituto Agronômico de Campinas.